Autor: Valmir Oissa
Resumo:
O presente estudo teve como objetivo fazer uma análise das críticas do filósofo
francês René Guenón ao ocidente quanto à perda da tradição que, segundo ele, teria
sido causada pelo individualismo e teria levado o ocidente a uma decadência
intelectual. Embora René Guenón não seja um filósofo clássico, sua obra exerce
influência na atualidade em vários países, existindo alguns centros de estudos de
doutrinas tradicionais em países da América do Sul, como o Instituto René Guénon
de Estudos Tradicionais, em São Paulo. Guenón critica todo o sistema filosófico
ocidental moderno por ter se afastado de concepções metafísicas tradicionais e
relegado à razão a solução dos dilemas da humanidade. Segundo ele o ocidente se
desviou da intelectualidade verdadeira e descambou em um pragmatismo em que
somente a utilidade prática de qualquer conceito é relevante. Ao tecer sua crítica ele
ataca pensadores como Descartes, Kant e Martinho Lutero, aos quais acusa de terem
selado a decadência intelectual do ocidente devido ao uso da razão e ao rompimento
com a tradição medieval. Para ele o que selou a queda ocidental foi a consolidação
do individualismo no meio filosófico, o que teria impossibilitado o estudo de uma
metafísica verdadeira e assim afastado toda ciência de sua essência. Martinho Lutero,
por sua vez, é acusado por Guenón de ter dado o golpe final nesse rompimento do
ocidente com a metafísica pura por ter ele causado a ruptura da religião ocidental, a
qual era, segundo ele, a detentora de uma metafísica tradicional. Ao analisar suas
obras percebemos que sua preocupação é com o afastamento do pensamento
ocidental da metafísica mística que ele defende e todas as suas críticas estão
embasadas nesse conceito místico de metafísica que defende. Para fazer a presente
análise tomamos como base duas obras suas: Orient et Ocident e A Crise do Mundo
Moderno, nas quais estão as críticas referidas. No decorrer dos estudos percebemos
que suas afirmações não são compartilhadas por outros filósofos e nos valemos de
pensadores por ele criticados ou contemporâneos seus para demonstrar a invalidade
de suas críticas. Concluímos então que suas ideias estão equivocadas em diversos
aspectos e que o melhor não é o retorno do ocidente à tradição passada, mas a
adequação do oriente ao pensamento moderno em harmonia com sua tradição,
fazendo os ajustes necessários para tal.